quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

OS CAVALEIROS DO ZODÍACO - A LENDA DO SANTUÁRIO



Por Diego Betioli

"Seiya e os outros atravessam as doze casas do Santuário para salvar a Deusa Athena..."

 A frase foi repetida inúmeras vezes ao longo dos 73 episódios da primeira e mais épica saga de Cavaleiros do Zodíaco, anime que virou febre instantânea no Brasil nos anos 90 e fez parte da infância de muita gente (inclusive deste que vos fala). Apesar de ser exibido como um "desenho" comum, CDZ possuía alto teor de violência, e a ausência desta é apenas uma das inúmeras diferenças entre a série animada e o filme em CG lançado no ano passado, vinte anos depois da explosão de sucesso brasileira e quase trinta após o lançamento do mangá e do anime no Japão.
 O anúncio da adaptação da saga de, como já citado anteriormente, 73 episódios em um filme de 93 minutos dividiu opiniões e gerou desconfiança. Seria ousadia ou ingenuidade conseguir converter todo o conteúdo de um enorme arco - embora boa parte de seus episódios sejam apenas de batalhas - e esperar que o resultado fosse positivo e satisfatório para o público. Mas, para entrar nesse mérito, é necessário entender justamente qual é o público deste filme.
 Se CDZ não sai da memória do fã brasileiro, nostálgico por natureza, no Japão o anime/mangá já não é tão popular há alguns anos. Algumas recentes tentativas de ressuscitar a franquia fracassaram, como o anime Omega, continuação da série original que agradou a pouca gente, e a série Lost Canvas, que retrata a Guerra Santa anterior, na qual Dohko e Shion lutaram. Este possuía uma qualidade imensamente superior ao de Omega e apresentou novos e bons personagens, mas acabou sendo cancelado por falta de audiência, embora o mangá tenha tido continuidade.
 Com essa problemática em vista, acreditou-se ser preciso apresentar CDZ a um público novo. Mais jovem, que, basicamente, não tivera nenhum contato com a série original. Daí surgiu a ideia de adaptar a principal saga do anime - a primeira - seguindo  a ordem cronológica do anime, o que possivelmente abre caminho para futuras sequências, que também devem seguir as demais sagas do cânone original.



 E é neste ponto que o público se divide entre "possíveis novos fãs" e "nostálgicos/fãs clássicos". Se você se enquadra no segundo, dificilmente o filme lhe agradará. Basicamente, a saga é triturada em um liquidificador para que o mínimo essencial da estória possa caber em uma hora e meia. Tudo acontece tão rápido que fica difícil se empolgar ou gerar qualquer empatia pelos personagens, especialmente por Seiya e Saori. Outro fator que incomoda ligeiramente são as piadas fora-de-hora, que teimam em aparecer com alguma frequência justamente durante as batalhas no Santuário, momento em que a carga dramática deveria estar elevada.
 Não obstante, há mudanças em pontos cruciais da narrativa original e na personalidade e aparência de alguns personagens. Entre as mais notáveis está a mudança de Miro para uma mulher, em uma possível tentativa de gerar mais empatia com o público feminino, e a transformação de Máscara da Morte, o mais cruel dos doze dourados, em um sujeito espalhafatoso e "engraçadonho". [SPOILER] Afrodite é simplesmente descartado, tendo uma morte rídicula e durando pouco mais de alguns segundos na trama. Saga, por sua vez, "evolui" no fim para uma criatura ao melhor estilo "chefão de God Of War", algo totalmente desproporcional ao universo de CDZ. [/SPOILER] Outros personagens, como Ikki, possuem pouquíssima relevância na trama.
 Todos estes pontos são apenas algumas coisas que podem incomodar os fãs mais ávidos, mas que, como já salientado, podem passar despercebidos por um público realmente novo. Os pontos positivos também devem ser ressaltados: a animação é excelente, com uma qualidade gráfica impressionante e extremamente bonita. Os personagens, bem como os cenários, parecem incrivelmente vivos, e o mesmo pode se dizer dos poderes e golpes especiais despejados pelos cavaleiros - um verdadeiro espetáculo visual. Por sinal, as batalhas, embora muto breves e nem de longe violentas como no anime, são muito bem feitas e podem ser consideradas o ponto alto do longa. As armaduras dos Cavaleiros de Ouro são outro show à parte, ricas em detalhes e com ótimo acabamento (a de Aldebaran é uma das mais bonitas). E a versão dublada conta com as vozes originais de praticamente todos os personagens.
 De todo modo, o filme sucita a velha discussão em torno da necessidade de reboots, de se repaginar clássicos para apresentá-los à nova geração, algo que já se tornou comum em Hollywood. O que acontece é que certas obras possuem caráter atemporal, de maneira que, independente da introdução ou retirada de elementos contextuais, sua qualidade e fama serão sempre postergadas para as gerações seguintes. Ao menos no Brasil, CDZ é um destes casos, mas vale lembrar que isto muda de país para país e, consequentemente, de cultura para cultura.
 Em suma, A Lenda do Santuário deve ser visto, por ambos os públicos, como um filme à parte do cânone original, sem compromisso, capaz de render alguma diversão ao espectador.








Razoável

2 comentários:

  1. Mestre! Muito bom o Texto!
    Vão fazer algo sobre o Oscar?

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    1. Valeu, mestre²!
      Seria uma boa, mas precisamos assistir os indicados antes. rsrs

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