quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

CHEF


Por Diego Betioli

Despretensão. Este é o segredo do filme Chef, dirigido, produzido, escrito e protagonizado por Jon Favreau (Homem de Ferro 2), e que pode ser considerado facilmente uma das melhores produções de 2014.
 Como sugere o título, a trama gira em torno da culinária, mais precisamente sobre o drama do chef Carl Casper (Favreau). Carl é um conceituado chef que trabalha a serviço de um renomado restaurante na Califórnia, onde possui grande prestígio com sua equipe de cozinha e uma amistosa relação com Molly (Scarlett Johansson), a hostess do estabelecimento. No entanto, Carl sente-se limitado pelas exigências de seu chefe, Riva (Dustin Hoffman), que não permite sua liberdade criativa na cozinha e acaba restringindo-o a preparar sempre os mesmos pratos. E tudo vem por água abaixo quando um famoso crítico decide experimentar o cardápio do restaurante e o detona.
 A tensão profissional de Carl é aliada com a relação insossa que possui com o filho, Percy, e a ex-mulher Inez (Sofia Vergara), em função da obsessão pelo trabalho e a frustração profissional, de modo que o garoto é sempre deixado em segundo plano. Embora passe um tempo com o filho aos finais de semana, Carl é ausente, e age de modo mecânico e indiferente com a criança.
 O ponto de mudança da trama ocorre quando Carl se vê no fundo do poço e percebe o quão distante se tornou do filho, o qual reconhece como apenas um desconhecido para si. E é na tentativa de reaproximação com o menino que o personagem acaba se reencontrando, ao acatar a ideia da ex-mulher de cozinhar em um food truck e, finalmente, fazer aquilo que sabe e o que deseja na cozinha.


  Há diversos pontos que tornam o filme extremamente prazeroso de se assistir. A narrativa é leve, recheada de toques de humor, e, embora o roteiro pareça previsível, não se torna cansativo em nenhum momento. A abordagem humanista do "fazer o que se gosta", mesmo que isto signifique desapego de posições sociais e a suposta satisfação profissional em colocação hierárquica (que na maioria das vezes não condiz com a satisfação pessoal), é o ponto-chave da trama, levando o expectador - muitas vezes identificado com situação similar - à reflexão. A mudança profissional ocorre de forma positiva na vida de Carl ao mesmo tempo - e também em virtude - da participação de seu filho em todo o processo, e em determinada cena este apogeu em sua vida é facilmente constatado, quando Percy nota a incontrolável felicidade no pai até então sisudo e infeliz, e também sorri.
 O bem-humorado Martin, cozinheiro e fiel escudeiro de Carl, é o principal alívio cômico do filme e também rouba a cena, sendo muito bem interpretado pelo ator John Leguizamo (O Peste). Robert Downey Jr., que trabalhou com Favreau em Homem de Ferro e Vingadores, também faz uma ponta no filme.
 Outros destaques são a ótima trilha sonora, que conta com 21 faixas e vai de jazz à música típica cubana. E claro, os pratos - uma verdadeira "pornografia culinária", no ponto de vista de que se torna explícito a "nudez" das refeições na tela. É impossível ficar indiferente e não sentir fome durante todo o filme (portanto, esteja bem servido ao assisti-lo).
 Este é mais um daqueles filmes que passam despercebidos, mas que certamente merece um olhar carinhoso. Vale reservar algum tempo - e o estômago - para apreciar essa obra.







   Excelente!

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